quinta-feira, 19 de agosto de 2010

De novo uma década vermelha

Toca a campainha às 8 e meia desta manhã. Ao longe, ainda detonam alguns foguetes. Moro longe da área de maior tumulto, mas tenho vizinhos que gostam de soltar foguetes, não importa o horário. Foi uma noite mal dormida.

Abro a porta. É um motoboy, de uns 20 anos, todo fardado de Grêmio. Só faltava a chuteira.

- Bah, cara, tu é corajoso, hein?

Ele responde, mais rápido que o Taison fugindo pela esquerda:

- A gente não pode se mixar pra 'eles'. Só agora, 15 anos depois, 'eles' conquistaram um título que a gente já tinha. A gente não pode é se acomodar.

Peguei a encomenda, assinei o recibo e agradeci.

Ele montou na moto, enfiou a cabeça num capacete azul e arrancou.

Não há bem que sempre dura, nem mal que nunca acabe - já diziam os avós.

No futebol não é diferente. Esse motoboy, entristecido, mas altivo em seu gremismo, ainda terá muitas alegrias com o seu clube. O futebol é assim. É como a vida, ciclos que se alternam. Por vezes, bons; outras vezes, nem tanto; e alguns ruins. O problema é que os ruins marcam mais.

Eu sou um sobrevivente da década de 70. Sou curtido, forjado naqueles anos de muito sofrimento para os gremistas. Eu era jovem. A década de 60, de supremacia tricolor, eu acompanhei do Interior, pelo rádio, pelos jornais, recém brotava para a adolescência. Tudo ainda muito distante.

Quando o Inter inaugurou o Beira-Rio e começou sua reação, eu preparava as malas para vir para a cidade grande, deixando Lajeado para trás.

O Inter passou a empilhar títulos regionais justamente nessa fase. Quando desembarquei em Porto Alegre, em 71, o Inter já era bi gaúcho, se encaminhava para o tri. A única alegria nesse período foi ter o gremista Everaldo como titular da maior seleção brasileira de todos os tempos, a maior seleção de futebol de todos os tempos, a de 70. Quem tem, tem, quem não teve, nunca terá.

Apesar de tudo, me associei ao Grêmio, para torcer, curtir suas piscinas e suas gurias.

Depois, vieram os dois campeonatos brasileiros. O Grêmio, em 77, interrompeu a série de títulos gaúchos do rival. Foi muita emoção, a minha primeira grande emoção como torcedor adulto, de arquibancada no sol, na chuva ou no frio. Inesquecível.

Em 79, um balde de água vinda das geleiras da Antártica: o título brasileiro invicto do Inter, o tri. O Grêmio não tinha unzinho sequer.

Não há mal que nunca acabe...

Em 81, o Grêmio conquistou o brasileiro. De novo, muita emoção. No ano seguinte, o vice, numa final roubada para o Flamengo. Eu era repórter da TV Bandeirantes, repórter de campo nas transmissões para todo o país. Vi de perto a garfeada.

Depois, a Libertadores e o Mundial. Nada podia ser maior. O sofrimento dos anos 70 estava plenamente recompensado. A partir daí, foram os colorados que penaram.

Então, quem foi curtido nos anos 70 não se assusta. Hoje, continuo gremista, claro, mas um gremista amenizado pelo tempo e pelo longo trabalho na imprensa esportiva. Foi através desse trabalho que aprendi a admirar e até a gostar do Inter, que me acolheu muito bem como jovem setorista em 1976, como estagiário do extinto Diário de Notícias.

Nos anos que se sucederam consolidei uma convicção: não vale a pena canalizar nossas energias para o futebol.

Ganhou, ótimo, vamos festejar. Perdeu, pena, vamos seguir em frente. Amanhã, pode ser a nossa vez.

O Inter mereceu ser campeão. Sua direção fez a diferença. Errou ao escolher Fossati. Corrigiu o erro a tempo. Reforçou o time a toque de caixa. Resultado: o bicampeonato da Libertadores.

O futebol requer planejamento, mas também improvisação. Requer competência, conhecimento, agilidade. Tudo isso sobra no Inter.

O Inter fez por merecer, assim como o Grêmio no passado. Estão de parabéns os colorados. A cidade amanheceu vermelha. Um dia já foi azul. E se nada for feito no Olímpico, haverá de seguir cor de sangue por muito tempo.

Mas, como ensinou o motoboy fardado de azul, branco e preto que encontrei nesta manhã colorada, é preciso não se encolher, e reagir.

O Grêmio AINDA é muito grande.

SAIDEIRA I

Não tenho qualquer dúvida de que o Grêmio deixou escapar o tri da Libertadores no ano passado por absoluta incompetência de seus dirigentes, em especial dos dois que comandavam o futebol, mas também do presidente, que parece nada ter aprendido com lideranças que conheceu de muito perto, como Rudy Petry, Olmedo, Hélio Dourado, Fábio Koff, etc.

SAIDEIRA II

Dias desses, um botequeiro lembrou de uma previsão do astrólogo Bruno Vasconcelos, feita se não me engano em dezembro de 2003, no Correio do Povo. Bruno, de quem acabei ficando amigo depois de muito tempo fazendo previsões a cada final de ano sobre a dupla gre-nal, previu que o Inter passaria a viver um período semelhante ao da década de 70, acumulando conquistas.

Bruno morreu faz três anos. Depois de sua morte, em respeito à sua memória e chateado com o deboche de ouvia de colegas (uns poucos, mas irritantes) sobre esse meu trabalho, desisti de publicar previsões astrológicas nas páginas do CP.

11 comentários:

  1. Ilgo, lesse o Correio do Povo? O Koff ajudou na escolha do Roth com o Carvalho. Ficar puto com ele? Jamais. Ano passado me lembro bem de todos os veiculos indicando que o Koff tinha dito pro Duda trazer o Renato, mas ele preferiu ir contra. Ta aí o resultado.

    Eu tenho esperança que a torcida saberá fazer o seu papel nas eleições. E seja quem for o eleito, ouça o Koff. Ele sabe das coisas.

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  2. Ilgo!

    Nasci em junho de 82, como bem referistes, um ano antes o Grêmio começa suas grandes conquistas, um ano depois a América e o Mundo.

    É verdade que no começo dos anos 90 fomos conhecer o inferno, mas voltamos, com uma certa ajuda, mas voltamos.

    Reinamos a partir de meados dos anos 90, em particular com a conquista do Tri da Copa do Brasil (eta, era fraquinho aquele time, mas com uma pegada boa. Ainda lembro como se fosse hoje o gol do Nildo!)

    Depois veio, outra vez, a América, mas o mundial não, uma pena. O Brasileiro e novamente a Copa do Brasil.

    Sob o comando de TITE, o Grêmio apresentou seu último grande time, e, assim, ganhamos mais uma Copinha.

    Novamente visitamos o inferno, e como uma AVE Fênix retornamos num jogo que nem o mais inteligente dos homens consegue explicar. Afinal, quem consegue explicar aquela loucura intitulada A BATALHA DOS AFLITOS!

    Em 2008, sob o comando de ROTH, e, em 2009, sob o comando de AUTUORI, perdemos os títulos mais ganhos da história.

    Realmente essa não é uma década boa, nada boa. Espero que o Grêmio retome o seu caminho. O caminho das PELEIAS, que torne sua alma aguerrida o espelho da torcida que tanto apoia e vibra com time.

    Infelizmente não vejo isso, não com essa direção e, tampouco, com os velhos caciques que se alternam no poder.

    É preciso coragem para mudar. Determinação para vencer. E hombridade para reconhecer o seu real estado.

    Hoje o Grêmio não é capaz de nada, há não ser de assistir as conquistas do rival. Chega de ODONE, OBINO, DUDA e outras figurinhas que não agregam nada ao Grêmio, precisa-se de sangue novo.

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  3. HAHAHA HUÁ, HUÁ, HUÁ.
    O Chico Coleho Izidro, diz q nós, Colroados, estávamos borrados e que sofremos até o fim. Huá, Huá, Huá.
    Huá, Huá, Hu´´a.
    É, vai fomos nós que marcamos um gol de pênalti aos 40 do segundo tempo, loucos d emedo de tomar o seungo gol do Medelin. HUÁ HUÁ HUÁ.
    PS. Mas não esqueço dos amigos gremistas, afinal, somos TETRACAMPEÕES DA LIBERTADORES.(NÓS, O RS)

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  4. Ilgo,

    Tu poderia falar mais sobre esse lance da final de 82?

    A rede globo jura que foi o Raul que defendeu a bola

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  5. Assim como depois do dia vem à noite de La Niña o El Niño a maré vermelha passa. Devemos lembrar que 70% do RS são azul da cor do céu do nosso estado. O azul do céu pampeano é indiscutivelmente o mais bonito.
    As hostes azuis e guerreiras se levantam de uma acomodação temporal. Voltamos ao combate e vamos reconquistar nosso lugar no cenário mundial. Foi bom uma sacudida para mostrar o caminho.
    A renovação iniciou e em uma semana já temos mais renovações pontuais que em meses de Meira. Nosso trem agora tem maquinista.

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  6. Em 82 parece que foi o Andrade ou Marinho, não tenho certeza, q teria tirado uma bola com a mão de dentro do gol, praticamente (digo teria pq não vi o jogo, não me lembro de terem transmitido por TV aqui p poa e devo ter visto só no JA,provavelmente), mas o Reche dizia q fora Pênalti (ah, acho q era um tal de Figueiredo) e q o Oscar Scolfaro não deu.
    E, SECADOR, claro q vibrei, mas que eh uma M sermos roubados SEMPRE isso é.
    Nada explica que Inter, Grêmio e Cruzeiro, por exemplo, possuam 6 Libertadores e apenas 6 Brasileirões, sendo q proporcionalmente ao número de disputas, deveriam ter muitos mais brasileirões. Nada explica fora a LADROAGEM DESSE CMAPEONATO BRASILEIRO SUJO DA rede globo, cbf e stjd.
    Árbitros brasileiros não podem nos ROUBAR na Libertadores. UFA

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  7. Eu estava na beira do campo. na hora, relatei que um jogador havia tirado a bola com a mão, e disse que essa mão não tinha luvas. portanto, não era o goleiro.
    agora, quem foi que tirou não sei, mas parece que foi o Andrade.
    Nesse jogo, entrou o Renato, reserva do Tarciso por teimosia do Enio Andrade, que fechava com um grupo e ia até o fim.
    o pessoal da Band de SP na cabine comentava que era uma perda pro Gremio não ter Tarciso. Aí, eu entrei pra dizer que o Renato era muito melhor e que iria arrebentar pra cima do Junior. Não deu outra.
    eu não lembro se o narrador era o Galvão, que estava começando, recém chegado do Paraná. um comentarista era o Sérgio Cabral, ex-Pasquim.

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  8. Lembro da narração do celestino valenzuela, na hora ele disse "opaaa" e a toricida chiou no estadio, td mundo viu a irregularidade menos o juíz. O Tita veio pro Grêmio em 1983 e comentou que antes daquele jogo um cartola do flamengo comentou pra os jogadores fazerem a dele que o juíz tava do lado rubro negro.Boa ewssa observação acima, proporcionalmente as libertadores, RS e MG deveriam ter muitos mais titulos brasileiros. Antes da Globo adotar a Copa do Brasil só dava Gremio e Cruzeiro.

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  9. Ilgo, parabens pelo texto. Expressou bem o sentimento de nós gremistas. Mas ainda tenho que aprender a nao direcionar minha energia para o futebol. Fiquei realmente muito mal nesses ultimos dias, vendo o rival nas alturas, maior do que nunca, e o gremio caído. Precisamos de um titulo relevante, com urgência! Porque não a libertadores 2012?

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  10. Ilgo uma provocaçãozinha:

    Será que agora tu vai reconhecer os méritos do "Rotho"?

    Será que o povo gaúcho precisa do amén do FC para considerar o Roth um bom tecnico? Acho que sim!

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