sábado, 4 de abril de 2009

O mano cresceu muito

Ninguém me perguntou, mas no dia dos 100 anos do Inter vou contar como começou minha relação com o nosso irmão mais novo.

A lembrança mais remota do meu gremismo está envolta pela névoa do tempo. Começa com um grupo reunido em torno de um aparelho de rádio, de onde sai um grito de gol. Muita vibração. Alguém grita: Brasil campeão do mundo. Acho que era 1962. Eu começava a descobrir o futebol.

O Grêmio eu descobri através do meu avô materno, Alfredo Herber, nas minhas férias em Santa Cruz do Sul, lá pelos anos 60. Rádio sempre ligado, ele acompanhava o noticiário com avidez nas horas de folga e só dormia depois de ouvir o noticiário final da Rádio Farroupilha.

Desconfio que foi aí que comecei a ser jornalista.

Sobre a geladeira, o boneco de um homem barrigudinho, de bombacha, cuia nas mãos. Era o Getúlio Vargas. Ele me contou quem era Getúlio.

Virei getulista.

De quebra, me contou histórias sobre Brizola, das milhares de escolas que ele havia construído no interiorzão gaúcho. Da reforma agrária que ele havia iniciado, etc.

Virei brizolista.

De tanto ouvir jogos do Grêmio e do Avenida pelo rádio e a alegria do meu avô a cada gol desses times, passei a gostar de futebol.

Virei gremista e avenidense. E craque de talento não reconhecido.

Era bom ser gremista. Alberto (Henrique), Altemir, Airton, Áureo e Ortunho; Cléo e Sérgio Lopes; Marino (Paulo Lumumba, Babá), Joãozinho, Alcindo e Vieira (Volmir). Muita surra no irmão mais novo, títulos gaúchos e alguns confrontos nacionais, como um pela Taça Brasil, contra o Santos, em que pela primeira vez me senti roubado no futebol.

Foi em 1969 que descobri que tudo o que é bom dura pouco. O Inter acabou com a minha alegria de piá. Foram oito anos de surra. De desespero, de raiva.

Em 1971, desembarquei em Porto Alegre trazido pelo Expresso Azul. Pouco depois me associei ao Grêmio, mais por causa das piscinas que existiam ao lado do estádio, ainda sem cobertura na geral. A gente sofria sob o sol e a chuva, mas mais com as derrotas sucessivas no campeonato gaúcho.

Mas o pior estava por vir: Inter campeão brasileiro. Mas ainda não era o pior: bicampeão brasileiro. Meu Deus, quando isso vai acabar?, perguntava angustiado, já sentado na sala de aula do curso de jornalismo da Ufrgs.

Se arrastava o ano de 1976 – para os gremistas os anos se arrastavam, intermináveis, naquele tempo). Fiz estágio no Diário de Notícias, um jornal decadente.

E onde eu fui parar? No Beira-Rio. No Beira-Rio. A caminho do estádio, ao lado do chefe de esportes, o Jorge Mendes, ainda portava minha carteirinha de sócio do Grêmio e profunda raiva do clube que só me fazia sofrer.
Lembrava que semanas antes, num Gre-Nal, havia jogado um radinho na cabeça de um colorado que ousara festejar um gol no final do clássico – de Escurinho, claro -, erguendo-se feliz, esquecido talvez que estava cercado de gremistas. Ele quase foi jogado no fosso. E eu perdi meu rádio.

Quando desci do carro, no pátio do estádio, pensei, coçando meu arremedo de barba, típica de um estudante de jornalismo: “Bem, vou encarar de frente meus inimigos, meus algozes, meus carrascos. Olho no olho”.

Havia muita alegria no ar. Alto astral. Afinal, o time recém havia conquistado o bi nacional.
Convivi, então, com estrelas como Manga (grande figura), Figueroa, Cláudio Duarte, Falcão, Valdomiro, Lula, Rubens Minelli, Gilberto Tim, etc.

Tenho até hoje guardadas algumas matérias que escrevi nessa época. Na redação, na Av. São Pedro, quase esquina com Farrapos, trabalhava ao lado do Pato Moure, que fazia o setor do Grêmio. Eu estava substituindo o Wianey Carlet, que fazia setor do Inter, e tinha ido para a Gaúcha.

Bem, eu que tinha a ilusão de destruir o inimigo, fui subjugado. Ao conviver com aquele pessoal, formando um vínculo de amizade, meu gremismo foi diminuindo. Podem me acusar de ter sido fraco, tudo bem, não me incomodo.

Era um pessoal simpático. Também vencia tudo. Apesar de ser um foca, era tratado com cordialidade e respeito. Certo dia, o carro do jornal não me buscou. Eram umas 19h. O Falcão, que saia do estádio, me viu parado em frente ao portão. Me ofereceu carona até o jornal, onde ele aproveitou para conversar com Pato Moure, seu amigo.

Como não simpatizar com Falcão?

Três meses depois, fui para a Folha da Manhã, onde fiquei mais uns dois meses, para trabalhar num banco.

Por ironia, em 1978, novembro, prestes a me formar, fui trabalhar na Folha da Tarde. No Esporte. No setor do... Inter.

Foi um período em que consolidei meu apreço e meu respeito ao Inter.

Deixei de ser sócio do Grêmio para ser apenas jornalista. É claro que continuo gremista, mas, como escrevi há três anos numa coluna do Correio do Povo, quando estou trabalhando, sou acima de tudo jornalista.

Para quem está há tanto tempo nesse meio, as cores se confundem, tanto que até me flagro cantando o belo hino colorado de vez em quando.

Hoje, respeito tanto o Inter que o melhor que posso fazer agora, nesta data tão importante, é esperar que o Grêmio, como irmão mais velho, mostre neste domingo quem é que manda aqui na aldeia.

O que será difícil, porque o mano cresceu muito.

8 comentários:

  1. Frase do Souza ontem: "A gente fica chateado porque ninguém sabe o que está acontecendo. Não se sabe que planejamento é este." Até os jogadores estão revoltados com o amadorismo da direção... O Celso não tem culpa, quem tem culpa são aqueles que o mantém treinando o Grêmio... FORA CELSO ROTH!!!

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  2. O mano cresceu muito mesmo, mas continua sendo o irmão mais novo, mesmo com algumas insubordinações, o respeito pra sempre permanecerá... apesar do Roth... ehehehe

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  3. Para mim ocorreu o contrário, antes eu não tinha todo espírito competitivo de hoje, eu não secava, hoje eu dou uma secadinha de canto hehehe
    Mas essa de trabalhar envolto a colorados te persegue hein, que coisa. Mantenha a fé, eles são apenas nosso irmão mais novo.
    Droga de Roth, vai inventar denovo!

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  4. ´Zé Esquilo ZEESQUILO@GMAIL.COM4 de abril de 2009 às 23:41

    Pô, blogueiro, desta vez tu me emocionatses.
    Mas eu queria saber a opinião do Matheus, será que ele concorda com o "papi", que a MARIANINHA é "ex-doce"? Duvido, acho que ninguém concordará contigo nessa.
    ALiás, já faz três anos daquela tua coluna admitindo ser gremista? Não seriam dois? É, temo ficando véio.....

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  5. O inter atual é muito arrogante, bem diferente do inter dos anos 70, esses dirigentes atuais parecem aquele cara q era pobre, ganhou na mega sena e colocam o carro novo encima da calçada com som no ultimo volume pra se exibir pra vizinhança. Mas a vida da voltas....

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  6. Nada tirar o Rotho, se ele sai perco meu principal personagem. terei de buscar outro além do Lula, que jeito é eterno.

    O Esquilo, vai comer avelã em outra freguesia. A Mariana está ficando cada vez mais ácida e cruel. O Possas sofre com ela. É , nao sei se sao dois ou tr~es anos.

    Mas na revista Gool de uns 7 ou 8 anos eu disse que era gremista. eu nunca escondi. sempre que perguntaram eu respondi.

    O Inter assumiu a soberba que os colorados sempre diziam que era do Grêmio. Agora, o arrogante é o Piffero.

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  7. Concordo, o Piffero eh arroogante e demonstra soberba. Mas não o culpo ,ao contrário, incentivo, pois já estava na hora de alguém responder. Os gremistas da mídia, principalmente, mais os dirigentes azuis, SEMPRE bancando os arrogantes, inclusive ainda ano pasado, quando estavam por cima no braisleirão, sendo arrogantes na sul-americana, bem feito, alguém precisava responder, bem feito..

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  8. Não gosto do Vitorio Piffero. Muito menos do comportamento do dirigente. O respeito mútuo é imprescindível no combate à violência no futebol e deve partir de cima. Mas, quando o assunto é arrogância, não há inocentes. Convivi com gremistas que exaltavam as vitórias do time na segundona e minimizavam a campanha vitoriosa colorada, no brasileirão de 2005. Minha infância e adolescência - anos 80 e 90 - foram de chacotas incômodas e desrespeitosas dos co-irmão que diziam, arrogantes: "Pare de falar de passado! Quando foi mesmo o último título de teu time?". Quem não gosta de arrogância, evite fazer papel de arrogante quando seu time estiver num momento bom. Mesmo que o torcedor rival, alvo da chacota, mereça muito. Afinal, há flauta melhor (ou pior?) do que aquela risadinha silenciosa??? Abraço centenário a todos!

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